sábado, junho 03, 2006

3) PETER DRUCKER - A PASSAGEM PARA A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO

A mudança para a sociedade pós-capitalista teve início pouco depois da Segunda Guerra Mundial. Escrevi pela primeira vez sobre a “sociedade dos empregados” antes de 1950. Dez anos depois, por volta de 1960, criei as expressões “TRABALHO DO CONHECIMENTO” e “trabalhador do conhecimento”. E em 1969 falei, pela primeira vez, da SOCIEDADE DE ORGANIZAÇÕES.

Assim, A SOCIEDADE PÓS-CAPITALISTA se baseia em trabalho realizado ao longo de quarenta anos. A maior parte das suas recomendações sobre política e ação foi testada com sucesso.

Entretanto, foi somente com o COLAPSO DO MARXISMO como ideologia e do comunismo como sistema que ficou completamente claro o fato de já termos entrado em uma sociedade nova e diferente. Só então um livro como este tornou-se possível: um livro que não é uma previsão, mas uma descrição, que não é futurista, mas um apelo à ação aqui e agora.

A falência – moral, política e econômica – do marxismo e o colapso do regime comunista não foram “O FIM DA HISTÓRIA” (como proclamava um artigo muito comentado, publicado em 1989 [por Francis Fukuyama].

Até mesmo os defensores mais ardorosos do LIVRE MERCADO hesitam em saudar seu triunfo como o Segundo Advento. Mas os eventos de 1989 e 1990 foram mais que o simples fim de uma era; eles significaram o fim de uma ESPÉCIE DE HISTÓRIA. O COLAPSO do marxismo e do comunismo ENCERROU duzentos e cinqüenta anos de domínio de uma RELIGIÃO SECULAR – chamei-a de crença na SALVAÇÃO PELA SOCIEDADE.

O primeiro PROFETA desta religião foi Jean-Jacques ROUSSEAU (1712-1778). A UTOPIA MARXISTA foi seu produto final – e sua apoteose.

ENTRETANTO, AS MESMAS FORÇAS QUE DESTRUÍRAM O MARXISMO COMO IDEOLOGIA E O COMUNISMO COM SISTEMA SOCIAL TAMBÉM ESTÃO TORNANDO OBSOLETO O CAPITALISMO.

Por duzentos e cinqüenta anos, a partir da segunda metade do século dezoito, O CAPITALISMO FOI A REALIDADE SOCIAL DOMINANTE.

Nos últimos duzentos anos o MARXISMO FOI A IDEOLOGIA SOCIAL DOMINANTE

AMBOS ESTÃO SENDO RAPIDAMENTE SUBSTITUÍDOS POR UM NOVO
SOCIEDADE, MUITO DIFERENTE.

A nova sociedade – e ela já está aqui – é uma sociedade pós-capitalista. Repito que esta nova sociedade irá usar o livre mercado como mecanismo comprovado de integração econômica. Ela não será uma SOCIEDADE ANTICAPITALISTA, nem uma SOCIEDADE NÃO-CAPITALISTA; as instituições do capitalismo sobreviverão, embora algumas, como os bancos, possam vir a desempenhar papéis bastante diferentes.

Mas o centro de gravidade da sociedade pós-capitalista - sua estrutura, sua dinâmica social e econômica, suas classes sociais e seus problemas sociais - é diferente daquele que dominou os últimos duzentos e cinqüenta anos e definiu as questões ao redor das quais se cristalizaram partidos políticos, grupos e sistemas de valores sociais e compromissos pessoais e políticos.

O recurso econômico básico – OS MEIOS DE PRODUÇÃO, para usar uma expressão dos economistas – não é mais o capital, nem os recursos naturais (a “terra” dos economistas), nem a mão-de-obra.

ELE É E SERÁ O CONHECIMENTO. As atividades centrais de criação de riqueza não serão nem a alocação de capital para usos produtivos nem a mão-de-obra – os dois pólos da teoria econômica dos séculos dezenove e vinte, seja ela clássica, marxista, keynesiana ou neoclássica.

Hoje o valor é criado pela PRODUTIVIDADE e pela INOVAÇÃO, que são aplicações do conhecimento ao trabalho.

Os principais grupos sociais da sociedade do conhecimento serão os TRABALHADORES DO CONHECIMENTO - executivos que sabem como alocar conhecimento para usos produtivos, assim como os capitalistas sabiam com alocar capital para isso, profissionais do conhecimento e empregados do conhecimento.

Praticamente todas essas pessoas estarão empregadas em corporações. Contudo, ao contrário dos trabalhadores sob o capitalismo elas possuirão tanto os MEIOS DE PRODUÇÃO como as FERRAMENTAS DE PRODUÇÃO - aqueles por meio dos seus fundos de pensão, que estão emergindo rapidamente em todos os países desenvolvidos como únicos proprietários reais, e estas porque os trabalhadores do conhecimento possuem seu próprio conhecimento e podem levá-lo consigo a qualquer parte.

Portanto, o DESAFIO ECONÔMICO da sociedade pós-capitalista será a PRODUTIVIDADE DO TRABALHO com conhecimento e do trabalhador do conhecimento.

Entretanto, o DESAFIO SOCIAL da sociedade pós-capitalista será a dignidade da sua segunda classe: OS TRABALHADORES EM SERVIÇOS. Como regra geral, esses trabalhadores carecem da educação necessária para serem trabalhadores do conhecimento. Em todos os países, mesmo nos mais adiantados, eles constituirão a maioria.

A sociedade pós-capitalista será dividida por uma nova dicotomia de valores e percepções estéticas. Não serão as DUAS CULTURAS – literária e científica – sobre as quais escreveu C. P. Snow, o romancista, cientista e administrador público em “The Two Cultures and the Scientific Revolution” (1959), embora essa divisão seja bastante real.

A dicotomia será entre INTELECTUAIS e GERENTES, aqueles preocupados com palavras e idéias, estes com pessoas e trabalho. Transcender essa dicotomia em uma nova síntese será o grande desfio filosófico e educacional da sociedade pós-capitalista.